A naturalidade com que o edifício original se agarra ao terreno pendente advém não só da geometria da implantação e da utilização dos materiais mas também da cobertura inclinada que reforça o sentido da topografia. (…) A presença do construído quase se reduz ao plano inclinado que se eleva do chão e que se descobre finalmente como cobertura (em parte) utilizável porque convertida em pista de atletismo. À chegada, esta impressão de chão elevado é sublinhada pela fachada envidraçada que enfatiza o rasgo e devolve, em reflexo, a construção dos modernos e a natureza que está para lá dos muros de Serralves.
A intervenção é maior do que parece, tendo conseguido duplicar a área construída até então, através da estratégia de enterrar a volumetria. A entrada é feita por uma grande escadaria rampeada que faz mergulhar no solo e descobrir ligações à cota inferior, nomeadamente o pátio afundado por altos muros de betão e que prolonga uma sala polivalente, definida por duas paredes envidraçadas com grandes painéis de correr, mediando interior e exterior com ‘espessura de espaço’.
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Do ponto de vista construtivo, a obra suporta a simplicidade formal, apresentando paramentos de betão armado que permitem fazer as contenções de terras e os grandes balanços necessários aos envidraçados corridos. (…)
Os espaços de recreio estão povoados por círculos prefabricados de betão, anéis que se apresentam como bancos ou caldeiras de árvore, blocos que se tornam pontos de encontro ou que evocam gigantes jogos da pataca.
Texto da autoria de Pedro Castro Cruz in Building views: Jofebar-PanoramaAH! / ed. Carlos Machado e Moura: Circo de Ideias, 2017